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morri tantas vezes

morri tantas vezes nos últimos anos que perdi a conta assistindo a filmes, no trabalho escrevendo poemas qualquer hora era possível abandonar a vida alguns dias morria antes do amanhecer fazia de minha cama sepulcro do qual o corpo se recusava levantar mas as mortes piores nasciam em madrugadas nas quais a mente se recusa descansar. ferindo a pele inclinando o corpo num viaduto ultrapassando a linha amarela nas plataformas dos trens muitas mortes em tantos segundos de covardia minha imaginação sempre foi mais forte do que eu e talvez seja a única parte boa de mim de tanta morte aprendi a morrer brincando morria sorrindo entre amigos sozinho no balcão de uma cafeteria morro cedo, desde os dezesseis de tanto aprender passei a ensinar a escrever sobre niilismos, vazios e outras matérias tudo que tocava era morte desmontei a esperança frustrei otimistas matei o sorriso de quem mais amei isso é uma das poucas coisas em que não fracassei [suportar a mim é difícil, não deseje isso pra você] aprendi tanto sobre não-vidas que nem estudo mais apenas espero o momento hoje é mais fácil contar os minutos que vivo pois os dias que morro esses já perdi a conta

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