não me peça nunca mais um poema
se não quer se frustrar
não escreverei sobre você
não, não ainda
contente-se agora apenas
com cafunés
frases de saudades e
aquele jazz
que foi testemunha de nossa primeira transa
não se pede um poema assim
porque poeta se perde em si
há muito peso em ser parte
do peito e da pena de quem escreve
não é porque seus olhos sorriem timidamente
e eu não os resisto
que escreverei sobre você
muito menos porque
os cinco continentes tremem
quando nossos braços e pernas
estão em guerra em noites de amor
nem porque nenhum frio sobrevive
à temperatura de nossos corpos quando
se deitam de conchinha
não espere um poema
apenas porque sua risada
é gracejo de sabiá-laranjeira
quando engole um pôr-do-sol
não espere céus alaranjados
pois tudo que escrevo é anoitecer
meus versos são iguais ao mês de agosto:
longos, úmidos e tristes
aprendi a escrever apenas
sobre finais não-felizes
e se um dia escrever sobre você
será escrever sobre despedidas
aceite rosas no lugar de versos
eu quero ficar
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