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o último compasso de uma ópera

aquele leito desconfortável, estreito transformara-se num palco imenso cujo efeito era o conforto intenso da inquieta alma

lá, o afinar dos violinos trazia calma para, em breve compassos repentinos prefaciarem novos destinos

do lado de fora do anfiteatro o aplauso cederia ao choro dentro o apreço a uma das vozes do coro

o público junto com a orquestra cantava não esperava o repouso de uma oitava mas no palco o músico à realidade transcendia via, na cessação da vida harmonia e poesia

sorte de quem até na morte poeticamente deixa de ser permitindo tudo menos o ritmo desfalecer

a partitura dos aparelhos marcava o sinal rallentando num dolce andamento allegro ma non troppo

cerrando os olhos do músico o maestro do tempo estendeu as mãos...

a música ressoa em forma-sonata de saudade

nunca antes a semibreve fora tão breve resumiu o intervalo da vida passagem de tempo e de ida à melodia de pausas que hoje se escreve




(poema a Alfredo, músico que se despediu cantando no outono de 2014 )

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