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o outro

um rosto estranho me observava do outro lado. com testa franzida e linhas de desconfiança, apertava os olhos como se pudesse, assim, melhor enxergar. parecia refletir algo. mas nada disse. era só silêncio e um sorriso tímido. depois de ajeitar os cabelos, levou as mãos ao espelho como se fosse me acariciar. imitei seus movimentos. mãos e rostos se aproximavam. talvez nossas testas teriam se beijado se não fosse o vidro que nos separava. dois desconhecidos reclinando o peso do mundo num espelho a partir de suas cabeças em repouso. uma lágrima se pendurou, mas pálpebras trêmulas a impediram de saltar. de súbito, deu de ombros, bateu na pia com a mão direita cerrada. partiu. sem nem olhar pra trás. e eu fiquei, preso aqui, do outro lado.

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nasci dia trinta e um de janeiro de oitenta e nove. às onze da noite.

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