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Professor, e agora?


E agora, José? A esperança acabou, o sinal tocou, a criançada correu, ninguém te ouviu a escola esfriou, E agora, José? E agora, Maria? E agora, você? Você que é sem nome, chamado de prof., você que dá quase sessenta aulas, que ama, mas não protesta mais E agora? Está sem ânimo, está sem discurso, está sem carinho, já não pode ficar já não pode correr, chorar já não pode, a noite esfriou, o dia não veio aumento salarial não veio seu riso não veio não veio a utopia mas a depressão veio, e tudo acabou e a gente fugiu quando o cassetete chegou, e agora, José? E agora, José? Sua doce palavra, seu instante de greve, sua gula e jejum, sua biblioteca, seus dias de abono, seus dias de risco, sua coerência, seu ódio — e agora Com o livro na mão, quer abrir novas portas, mas na sua escola pintaram todas de cinza; quer alimentar várias almas, mas nem merenda tem; quer mudar de emprego, tempo não há mais, não te ensinaram a fazer mais nada, não é, José, e agora? Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você vivesse... Mas você não vive, você é triste, José! Sozinho na sala, qual bicho-do-mato, sem poesia, tem quatro paredes nuas para se encostar, tem cavalo preto que usa farda a galope, você marcha, José! a gente marcha e não sai do lugar, José! Porra, José! E agora? Pra onde?

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