meus pés estão fincados
em solo arenoso
minhas raízes sufocam-se em si
os galhos crescem perdidos
como se trilhassem um labirinto
e minhas folhas são outono
secas e amareladas
os ninhos foram abandonados
pelos pássaros que voaram
perdendo-se em despropósitos
no céu
respiro a neblina
em terra
sugo mananciais inteiros
com minhas vontades
minha sede é limitada
mas água me falta
a garganta é seca
mesmo com dilúvios de sol e chuva
faço fotossíntese em trevas
e sombra no jardim que me cerca
feri com espinhos
todos que se esconderam
em baixo de meus galhos
para fugir do mormaço
da pós-modernidade
matei animais que vieram se alimentar de meus pomos
meus frutos tem veneno e sabor de lascívia
todas as madrugadas
um herói me derruba
com um grande machado
mas renasço todas as manhãs da semente do pecado
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