época de escola, um dia chuvoso qualquer ou de céu limpo. a ida para escola de uma criança pobre nem sempre foi simples. o transporte: a bicleta. o piloto: meu pai. o trajeto nem era longo, mas cheio de odisseias. a bike era nossa nave que singrava as ruas da região do aricanduva. os obstáculos eram as chacotas de quem já tinha carro e desfilava com eles na arena de lutas de classe. com o passar dos anos, nossa frota aumentou: um corcel, depois um fusca azul, até chegar a um fiat prêmio
[o fusquinha azul era carro de batalha e turístico também. cabia uns 7 moleque de carona nesse tempo. fazia o maior sucesso] mesmo com nossa situação melhorando, a luta era intensa. cada volta pra casa era uma volta pra ítaca. cada dia de trabalho era vencer os monstros dos mares da injustiça, mares que fazem o operário-soldado navegar mais para receber menos. cada dia uma flecha no calcanhar de aquiles, mas, mesmo mancando, era forte e nunca deixou de ser herói, nunca abandonou os seus. seus esforços não cabiam nos mares, transbordou coragem a vida toda. agradeço ao herói que cuidou de mim quando vivíamos tempos de guerra e fez-me viver hoje tempos de paz. nosso exército sempre foi pequeno, formado por um pai que erguia suas armas dentro de uma gráfica e uma mãe que guerreou em tantos lugares até conseguir firmar seu campo de batalha numa escola.
agora me sinto rico e acredito que sempre fui mais rico que todos os meninos que brincavam de ser rei enquanto eu brincava de ser piloto na garupa da nave-bike do meu pai.
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